Conheça a importância do Sleeping Giants Brasil

Movimento expõe empresas e instituições que financiam fake news com anúncios

Monique Lopes
5 min readOct 7, 2020
Prints retirados do Instagram da página oficial do Sleeping Giants Brasil.

O papel do Sleeping Giants é essencialmente denunciar, sobretudo para grandes empresas, onde a publicidade “programática” delas, que é automática, está sendo veiculada. Muitas empresas e instituições não sabem ou não fazem vista grossa nas suas divulgações em sites que fabricam fake news. Lançado no dia 18 de maio de 2020 no Brasil, a meta do movimento é alertar sobre conteúdos veiculados e pressionar a retirarem a publicidade de páginas e sites da internet que propagam desinformação ou ofensas.

“Muitas empresas não sabem que isso acontece, é hora de informá-las”, diz o perfil.

O Sleeping Giants foi criado nos Estados Unidos em 2016, pelo publicitário Matt Rivitz, com o intuito de chamar a atenção de empresas para o financiamento de sites com conteúdos apontados como fake news ou preconceituosos. No Brasil, o Sleeping chegou causando grande impacto e repercutindo no Twitter. Em três dias o perfil brasileiro conquistou quase 100 mil seguidores.

O primeiro alvo do movimento foi o site do Jornal da Cidade Online, conhecido por desinformar e propagar discursos de ódio. Especialistas dizem que a prática de capitalizar em cima da desinformação não é recente. E que essa, é uma das formas de poder lucrar com esses anúncios.

Nos últimos dias, a conta expôs marcas como Dell, Claro, TIM, Samsung, Americanas, Submarino, Mercado Livre, Fiat, Gympass, Magazine Luiza e Banco do Brasil. O Sleeping Giants também mencionou anúncios de veículos de comunicação e audiovisuais como Folha de S.Paulo, Telecine e Canal History Brasil. Muitas dessas empresas divulgam notas reiterando seus posicionamentos, retirando os seus anúncios e repudiando qualquer forma de disseminação de fake news e que não compactuam com essa prática.

Grandes empresas e instituições têm afirmado que não têm alinhamento político. Isso ocorre porque as elas compram pacotes de anúncios em plataformas de distribuição de publicidade, como por exemplo, o Google Ads, e não fazem o controle de em quais sites seus banners estão sendo colocados. Possibilitando que muitas páginas que publicam fake news, por exemplo, acabem sendo consideradas “aptas” para receber anúncios automáticos.

O trabalho feito pelo Sleeping tem sido importante para a sociedade atualmente, em acompanhar os desdobramentos das denúncias feitas, por mostrar que existem indústrias que geram milhões por trás de sites de fake news.

Confira, a seguir, a íntegra da entrevista sobre o movimento Sleeping Giants Brasil com o jornalista Gilberto Scofield Jr. diretor de Estratégias e Negócios da Agência Lupa.

Qual a relação do movimento no Brasil com o Sleeping Giants dos EUA?

Bem, minha preocupação é justamente essa. Ainda que a tática do SG seja interessante — desmonetizar as plataformas que espalham fake news e discurso de ódio -, eu me ressinto de certa transparência no processo. Quem financia o SGB? Qual a sua relação com o SG dos EUA? Qual a metodologia que eles usam para decidir o que é um site propagador de fake news? Não sou muito fã de Justiceiros Mascarados. O mesmo entusiasmo com o SGB eu via com relação Lava Jato que, em nome do combate à corrupção, ultrapassou uma série de sinais republicanos ao longo do processo, com agendas bem obscuras e paralelas. Então eu vejo esta pouca transparência com cautela.

Os disseminadores de fake news na internet só vão parar quando a publicidade deixá-los?

Não acho, mas dificulta muito quando se fecha a torneira de recursos. O combate às fake news se faz por educação, tanto àquela volta a criar nas pessoas o que chamamos de letramento digital e midiático (como consumir um conteúdo em internet) até o treinamento para que tenhamos um exército de checadores. Tampouco creio na criminalização que se busca com as leis. Em países onde as fake news foram objeto de legislação, o que se vê são os poderosos usando a lei para calar o dissenso.

Você considera que o trabalho do Sleeping é um complemento da checagem de fatos?

Não. O trabalho de checagem de fatos segue a metodologia da IFCN (veja aqui), somos auditados anualmente, nossos financiadores são divulgados e conhecidos, enfim, há muita transparência na nossa metodologia de trabalho, que é um viés do jornalismo de dados. O que a SG faz não é jornalismo. É monitoramento de sites e de programática, de olho na reputação as marcas.

A iniciativa do Sleeping pode criar uma conscientização nas empresas em não anunciar mais em sites duvidosos?

Espero que sim. Ainda que muitas saibam exatamente o que estão fazendo e, inclusive, respondendo a uma demanda de gabinetes de ódio.

Qual o impacto das fake news no dia a dia do jornalismo?

A pior possível. Nem acho que se restringe ao jornalismo, mas aos processos democráticos de um modo geral. Estamos agora, por exemplo, treinando todos os TREs do Brasil contra a desinformação que afeta as eleições. As eleições são um pilar do processo democrático, então quando você tenta macular o processo eleitoral com suspeitas ou mentiras a seu respeito, em última instância você está atingindo a base da democracia.

Você acha que um dia o mundo conseguirá se livrar da desinformação?

Acho difícil.

O que você acha das fake news como instrumento político e como combatê-lo?

Acho desonesto e vil. O combate é via educação.

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Jornalista com apreço ao jornalismo digital. Escrever mantém memórias.

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